quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O arrastão das múmias

Fonte Emilio Azevedo de Vias de Fato; Charge Cesar Teixeira.
Estamos em 2011! Na segunda década do século XXI! E hoje, a realidade política do Maranhão mais parece um filme de época. Uma tragédia. Não a grega, mas a brasileira. Muitos dos atuais problemas maranhenses são antigos dramas dos séculos passados, com um cenário marcado pelo coronelismo, escravismo, concentração de terras, saque e destruição das riquezas naturais, ausência de civilidade política, cooptação, medo do poder, miséria social, o patrimonialismo levado às últimas conseqüências, o compadrio, a fraude, a impunidade...
Todas essas desgraças do passado se apresentam em nosso ano novo com Roseana Sarney Murad pela quarta vez no Palácio dos Leões. Seu governo micareta é a síntese do atraso. A eterna musa das empreiteiras é hoje a madrinha do latifúndio e a comandante da violência no campo e dos despejos de lavradores. É quem cuida das relações públicas (e privadas) do grande capital em nosso Estado (Vale, Eike Batista e Cia).
E hoje, junto com aquela que os estudantes de São Luis um dia batizaram de Rosengana (por conta do “tele-engano”), temos Jorge Murad (Geia/Lunus) que resolveu sair da tumba para o comando da Casa Civil e da Secretaria de Planejamento do Estado; Lobão no putrefato ministério das Minas e Energia; Epitácio Cafeteira, João Alberto Carcará e Edinho “Trinta” nos “representando” no Senado Federal; o “taradão” Pedro Novais assumindo o Ministério do Turismo; Ricardo Murad mandando na Secretaria de Saúde e querendo se eternizar na presidência da Assembléia Legislativa e Fernando Sarney despachando e fazendo suas folias e barricadas no Sistema Mirante/Máfia, sempre com seu inseparável habeas corpus preventivo no bolso.
Sim, estamos em 2011! E hoje, a política do Maranhão, além de estar escandalosamente degenerada, foi embalsamada. Além da explícita lógica do crime organizado, o Estado e suas principais instituições estão sob o comando de múmias. Sim, múmias!
José Sarney, o coronelzinho desta província, com sua estranha síndrome de faraó, que teve como maior sonho de consumo deitar num mausoléu no Centro Histórico de São Luís (caso do Convento das Mercês), hoje comanda esta trupe de defuntos reanimados que está à solta, com a corda toda e fazendo todo tipo de farra com dinheiro público. É um arrastão saído dos sarcófagos da ARENA e do PMDB e que insiste em levar o Maranhão do nada para lugar nenhum...
E a oposição? Bem, ao longo das últimas décadas, se ouviu em São Luís muita gente dizer que não existe oposição no Maranhão. Não é exatamente uma verdade. Afinal, houve figuras, movimentos e até partidos, que merecem todo o nosso respeito. Mas, o fato é que sempre faltaram algumas coisas para mudar a triste realidade política deste estado. Faltou, por exemplo, uma vontade política a mais e algumas sacanagens a menos entre muitos daqueles que se dispuseram, um dia, a levantar a bandeira da oposição (e da esquerda). O recente naufrágio da “barca da Libertação”, que navegou na política local entre os anos 2004 e 2009, é um exemplo desta situação.
Mas, estamos em 2011! E o que dizer da oposição hoje? Está em decomposição? Ainda existe? Entregou os pontos? Foi para o túmulo? Tirou férias? Está na janela vendo o arrastão passar? Ou não sabe exatamente o que é fazer oposição? Afinal, quem vai agir como oposição no Maranhão? Quem quer agir como oposição?
Em 1994, Roseana Sarney Murad se “elegeu” pela primeira vez governadora do Maranhão. Houve fraude, logicamente. E, no dia da diplomação da filha do coronel, o governo colocou inúmeros policiais militares na frente do TRE. Todos de metralhadoras em punho e acompanhados de cachorro pastor alemão. Naquele ano, terminada a apuração, a dita “oposição” cruzou os braços. Mas, Sarney e seu grupo, ficaram com medo de uma possível manifestação popular. Temeram o povo, o mesmo povo que, na prática, com seus milhares e milhares de votos, tem sido por estas bandas sempre a maior força oposicionista.
No mês passado, Roseana recebeu mais um diploma de governadora. Mais um, tirado da lama. Novamente com fraude. A diferença é que atualmente a oligarquia está aparentemente tranquila. Com suas ventosas presas às tetas de Brasília, age como se o nosso estado fosse a mais estável das democracias. Apesar dos delinqüentes de sempre, desta vez não teve polícia. Apenas o cordão dos puxa sacos e a claque tomaram conta do honorável Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. Este que um dia, em 1951, foi literalmente queimado por conta de manifestação contrária à manipulação fraudulenta dos votos.
As eleições no Maranhão continuam indecorosas, mas o bloco das múmias está aparentemente livre, leve e solto para passar com seu arrastão da mais alta periculosidade.

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