segunda-feira, 7 de março de 2011

Carne Moída com Quiabo – CMQ


Destacaremos aqui parte da importante coluna dominical de @Abranca no Blog Marrapá, chamado Carne Moída com Quiabo, um personagem que vive exilada das terras do Maranhão e por isso mesmo tem a perspicácia de ver o que ocorre nessas terras, com olhar isento e altamente crítico, não deixe de apreciar:

Carne Moída com Quiabo – CMQ

Dialogo de Roseana Sarney, com repórteres da revista Época em entrevista feita no ano 2000:


Época: Vimos miséria, governadora.
Roseana: Miséria não, pobreza.
Época: Era miséria, governadora.
Roseana: Onde?







A guinada populista de uma presidenta sem carisma:

O governo anunciou essa semana, reajuste médio de 20% do Bolsa Família para 2011. Espinha dorsal do Governo petista, a presidenta Dilma escolheu  a  paupérrima e distante cidade Baiana de Irecê para dar a notícia. Não foi uma escolha aleatória, uma vez que o Nordeste é a região mais beneficiada pelos tostões que o governo distribui aos mais pobres. Antes de estacionar o aero-Lula em Irecê, Dilma fez questão de ir ao Programa da Apresentadora Global Ana Maria Braga para anunciar de modo didático como gastará 4 bilhões de reais para manter as massas dóceis e fiéis ao governo. O anúncio do reajuste do “Bolsa-Pobreza” vem apenas alguns dias após o alardeado corte de 50 bilhões de contingenciamento de verbas que o governo promete fazer para manter suas contas superavitárias e que muitos dizem por aí ser pura balela para calar a boca do mercado (Leia mais sobre o assunto aqui).
No bisturi de cortes do governo, sobrou até para as contratações via concurso público. Durante a campanha eleitoral, a tropa de choque do Lula espalhou que o PSDB de Serra não gostava do funcionalismo público e que o tucano, se eleito fosse, cortaria todos os concursos já previstos. Lembram-se? Pois é.
Em suma: o mesmo governo que nega aos Brasileiros o acesso a conquista de uma carreira no serviço público por meio do instrumento do concurso – que em tese privilegia o mérito – é o governo que amplia a distribuição de esmolas para manter as pessoas na dependência da máquina pública. Ou seja: dignidade zero. Enquanto preparava seu omelete em melhor estilo Amélia e seu avental todo sujo de ovo, no alienante e desnecessário programa matinal da Rede Globo,  a Presidenta dava sinais claros da guinada que pretende fazer em sua imagem. Quase completamente sumida dos holofotes desde a posse, Dilma parecia não querer repetir o espetáculo de Lula com suas histriônicas aparições regadas a metáforas futebolísticas. Parecia. Ao usar o mês da mulher como desculpa para implantar a nova face do populismo petista, Dilma deu mostras claras de que o que vem por aí é uma Governante com o mesmo desejo de inebriar as massas que tinha o seu antecessor, o problema é que Lula ao menos tinha carisma de fato. Dilma nem passa perto disso. Ao contrário, sua antipatia irradia por todos os poros e só não foi notada pelo povo da pobre Irecê, porque embrutecido pela miséria e isolamento, recebeu a Presidenta demagoga com suas promessas de reajustar em alguns centavos o dízimo que mantém o povo cativo.
Sei que tem gente aí lendo este post e pensando: “Essa amada aí só fala mal do Bolsa Família  porque certamente nunca passou fome.” O velho e igualmente demagógico argumento de quem não sabe ou não quer saber que todo povo, em qualquer lugar do mundo e em  qualquer época da História, só se tornou digno quando não delegou a terceiros o controle de seu próprio destino. Falei bonito agora.
O reajuste do Bolsa Família e o corte de novas vagas no serviço público, demonstram que o velho ditado  popular pregando que deve-se dar a vara de pescar ao invés de dar o peixe, não tem valor algum na prática, quando o assunto é manter o poder a qualquer custo.
Esse é o Brasil do PT.
Em tempo, a amada Dilma, que chorou horrores quando soube das hemorróidas da Governadora Roseana Sarney, mandou cortar o din-din que seria destinado a construção de obras estruturais do melhor governo da vida da guerreira.




Os muitos Gerôs do Maranhão.
No dia 22 de março de 2007 um preto pobre foi barbaramente espancado até a morte pela Polícia Militar do então governador do Maranhão, Jackson Lago. Nada demais, levando-se em consideração a rotina da PM nos bairros da periferia do Estado. Mas, para azar da Polícia Militar e  azar do Governador Jackson,  o preto pobre em questão era o compositor Gerô, autor daquela musiquinha cujo refrão, todo maranhense conhece : “tem sereia, na ponta d’Areia, com seus olhos de cristal…”. Até então na penúria, dependendo da misericórdia de um ou outro abnegado que aceitava comprar um de seus CD’ s e humilhado pelas autoridades da cultura que atrasavam o pagamento de seus cachês, foi só morrer para Gerô virar automaticamente uma espécie de herói dos que antes pouco se lixavam para ele. O Governador Jackson prometeu uma limpeza na Polícia Militar; o Ministério Público prontamente montou uma equipe para acompanhar e investigar o crime e uma dúzia de políticos oportunistas esteve no enterro para prestar solidariedade a família do músico. Nunca antes na história deste estado, um preto pobre tinha sido tão ovacionado (Talvez só João do Vale). Pois bem…
.Semana passada saiu em todos os jornais do Maranhão, com exceção daqueles que sabemos quais: nos últimos 10 anos a escalada de violência no estado aumentou assustadoramente com um acréscimo de 297% do número de homicídios.  Apenas entre os jovens esse percentual subiu para quase inacreditáveis 514,9%. O assunto, destaque na imprensa Maranhense, no entanto, omitiu um dado importantíssimo que aparece como tema preocupante no relatório do Mapa da Violência divulgado pelo Ministério da Justiça: a maioria desses jovens mortos eram negros. Para se ter uma ideia, entre 2002 e 2008, morreram 350 jovens brancos no estado, enquanto  os jovens de pele negra somaram 2275 vítimas. Entre os brancos, as mortes violentas em sua maioria, foram provocadas por acidentes de trânsito e suicídio, enquanto as mortes de negros foram em geral provocadas por homicídios, dentre elas um incontável número ocorrido dentro de presídios, carceragens ou salas de inquéritos de delegacias pelo Estado afora.
Na época em que Gerô foi trucidado, o alto escalão da Polícia Militar, comandada por Jackson Lago, quis espalhar a versão de que o músico falecera porque, sabe-se lá como, teria batido a cabeça contra a grade da cela. A imprensa viu o estado do corpo do músico e teve acesso aos reais motivos de sua morte, então o Governo foi obrigado a assumir o fato notório de que a polícia militar usa métodos pouco ortodoxos para lidar com “suspeitos”. A Polícia dissera que havia confundido o compositor com um assaltante e como ele reagira, conduziram-no em uma viatura até o posto policial do terminal de integração da praia Grande, sendo vítima de agressões durante o trajeto e quando  já estava imobilizado nas dependências do posto. Testemunhas ouviram gritos de Gerô, que pedia socorro e suplicava para que os policiais não o matassem.  Quando se cansaram de espancá-lo, o capitão Lenine, o Sargento Mendes e os Soldados Expedito e Paulo, pediram uma viatura de reforço onde colocaram o músico já desacordado e tentaram por algum tempo desová-lo em delegacias, até inventarem a história de que se tratava de um doente mental, conseguindo assim deixá-lo no Hospital Nina Rodrigues, onde deveria ser encaminhado para tratar os ferimentos.
Daqui há duas semanas, quando a morte de Gero completar 4 anos, o balanço a ser feito será lamentável: O Ministério Público não recorreu das sentenças que absolveram os envolvidos no assassinato, que por sinal continuam exercendo suas atividades normalmente; o governo não fez a limpeza na polícia, que continua matando pretos pobres e os políticos oportunistas permanecem quietinhos, quietinhos. Este último caso talvez ilustre bem a que ponto a hipocrisia e omissão a respeito do assunto chegaram no estado. Veja –se o exemplo do auto proclamado Especialista em Sociologia das Interpretações do Maranhão, Silvio BemBem. Secretário de Estado de Igualdade Racial na época em que a Polícia  Militar do governador Jackson matou Gerô, BemBem hoje em dia faz pós graduação em Sociologia na cara Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUS-SP) e pasmem, com Bolsa (gorda) concedida pela Fundação Ford, que em tese financia o acesso de jovens pobres, negros, índios e outras ‘minorias’ em situação de risco, a terem acesso aos cursos de pós graduação no país e no exterior . Pois bem, enquanto o Ministério da Justiça divulgava o relatório revelando que o Maranhão massacra jovens negros a torto e a direito, o ex excelentíssimo Secretário de Estado, especialista em Sociologia das Interpretações do Maranhão e negro beneficiado pelo auxílio da Ford, Silvio BemBem, estava no amado twitter (@silviobembem) vociferando contra seus companheiros de partido, Monteiro e outros ladrões do PT que assaltaram o INCRA-MA; além de gabar-se por estar assistindo a palestra da Professora. “Elida Rugai sobre os livros: Casa Grande & Senzala e a Integração do negro na sociedade de classes.” Sobre o relatório do MJ, nenhuma palavra, nem um pio.
Haja hipocrisia, cara de pau e mau-caratismo, Silvio Bembem!!
Assim, coube a Branca aqui, tuitar a respeito do assunto e dentre os vários seguidores que me replicaram, um dizia assim: “Todo Mundo odeia o Cris. Trágico, trágico”
Trágico mesmo é que muitos negros Gerôs continuarão morrendo no Maranhão com a conivência e omissão do Estado, enquanto alguns negros  BemBems continuarão enchendo a pança as custas disso.
Baixe o relatório completo do Mapa da Violência no Brasil 2011 AQUI.

Escreva para o CMQ: abranca@marrapa.com

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