quinta-feira, 24 de março de 2011

Quem escreveu e quem pagou?


Que analistas políticos, historiadores, jornalistas e outros profissionais que necessitarem recorrer às fontes jornalísticas do Maranhão num futuro breve terão dificuldades para estudar a realidade do Maranhão de hoje não é novidade.
Os critérios de publicação de notícias atendem, em último lugar, ao interesse público, à noticiabilidade. Primeiro o interesse dos patrões (políticos, empresários etc.), depois o interesse dos bolsos dos proprietários dos meios de comunicação (quando estes não são patrões de si mesmos), por último, mas ainda assim antes do interesse público, a movimentação de peças carcomidas num velho tabuleiro de xadrez – sinônimo, aliás, de onde alguns deveriam passar uma temporada.
Um “Manifesto estudantil pela volta às aulas”, publicado na capa de diversos jornais ludovicenses hoje, é prova inconteste destes citados critérios – ou da falta de. Sobre a greve dos professores da rede pública estadual de ensino, dezenas de entidades do movimento estudantil maranhense “vêm a público externar indignação com a intransigência do Sinproesemma”, conforme texto da nota, que dado o alinhamento ideológico com os interesses do governo de Roseana Sarney bem poderia ter tido a Secretaria de Comunicação de ghost writer.
Um parêntese: até bem pouco tempo, “estudante” era sinônimo de “liso”, este o falar popular para “sem grana”. Cabe perguntar: de onde saiu o dinheiro para veicular anúncio em capas de jornal? Só eu vi em três, mas a nota deve ter sido publicada em mais. Fecha.
A nota – como “o melhor governo da vida de Roseana Sarney” – é uma soma de equívocos, entre aspas trechos da nota: “O Sindicato teve os meses de dezembro, janeiro e fevereiro para negociar com o governo”; alguém aí já viu greve em férias? Ou a greve impacta a prestação do(s) serviço(s) ou não tem sentido; “Mas, para tristeza dos estudantes, que após oito anos teriam o período letivo respeitado”; quem garante? De promessas e boas intenções o inferno e o governo Roseana Sarney estão cheios – ou alguém aí acredita que Ricardo Murad entregará mais de 70 hospitais dia 1º. de abril? Aliás, alguém aí lembra de quê 1º. de abril é dia?
Recordemos que a governadora não é marinheira de primeira viagem. Professores e professoras também não: em outros governos de Roseana Sarney, a classe amargou gestões inteiras sem um centavo de reajuste. “A imprensa noticiou que o governo se comprometeu com o aumento salarial de 10% a partir de outubro e a implantar, ainda este ano, o Estatuto do Educador”, diz outro trecho da nota. Os “compromissos” deste governo somam-se às citadas promessas e boas intenções.
Um movimento estudantil que bate continência a governo, seja municipal, estadual ou federal, nem merece ser assim chamado. Aquele deveria somar ao pleito do sindicato, reivindicações por melhorias na infraestrutura, na qualidade do ensino etc., para que se melhorem os índices do Maranhão no quesito educação – base para que melhorem outros índices.
Com a nota datada de ontem e publicada hoje nO Estado do Maranhão, O Imparcial e Jornal Pequeno, o movimento estudantil maranhense – exceções há, certamente – contribui para tentar jogar a opinião pública contra trabalhadores que reivindicam direitos legítimos. São peões no medíocre jogo político provinciano, na guerrilha midiática travada sobretudo pelo Sistema Mirante contra pais e mães de família que desejam ver amordaçados.
Lembrei de Caetano, noutra ocasião: “É esta a juventude que quer tomar o poder?” Este blogue apoia a greve, legítima.
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Texto de Zema Ribeiro

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