terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Cabeça que não rola


O jornal O Estado do Maranhão, no afã de minimizar os efeitos da chacina de Pinheiro e os inevitáveis estragos produzidos na imagem do governo, conseguiu encontrar, em meio a tantas cabeças sem corpo, um dado positivo. Segundo a sua principal coluna política, o episódio teria servido para “reforçar a relação institucional e política da governadora do Maranhão com a presidente da República”. A rebelião na delegacia de Pinheiro teria, ainda sob a ótica do matutino dos Sarney, servido para “mostrar que o governo do Maranhão e o da União estão afinados”.

Charge: blog do Linhares
Charge: blog do Linhares
Faltou dizer quantas cabeças mais serão necessárias até que essa relação entre Roseana e Dilma se estreite a ponto de gerar medidas concretas capazes de evitar que no Maranhão presos sejam mantidos em jaulas ou amontoados em delegacias em condições desumanas. O Jornal Nacional, certamente abastecido com informações do Sistema Mirante, tirou o foco da verdadeira questão, limitando-se a noticiar a inclusão, entre os decapitados, do “monstro de Pinheiro”, numa alusão ao lavrador José Agostinho Bispo Pereira, condenado por manter relações incestuosas com uma filha.
Tudo para tentar convencer a opinião pública de que o episódio não passou de represália dos presos contra colegas de cela acusados de crimes sexuais, argumento logo desmontado pelos fatos. Entre os mortos, apenas um – José Agostinho – respondia por crimes dessa natureza. A rebelião de Pinheiro há muito vinha se desenhando, e o principal motivo foi a superlotação da delegacia regional, fato antigo e do conhecimento da cúpula da Segurança, que nada fez no sentido de evitá-la, como nada faz para impedir que o fato se repita em outras delegacias do interior que enfrentam situação semelhante.
A grande verdade é que a Segurança que foi alvo das mais duras críticas no governo Jackson Lago se deteriorou de vez no atual governo, levando a criminalidade a patamares nunca vistos. Em qualquer outro lugar do planeta a ‘cabeça’ do responsável pela pasta já teria ‘rolado’ desde o primeiro episódio, em novembro último, em São Luis, quando 18 presos foram trucidados durante uma rebelião no presídio São Luís.
Mas o secretário carrega no currículo uma qualificação que torna sua cabeça ‘indecepável’. Agente da Polícia Federal, era ele quem vazava para ‘Don Bigodon’ as informações sobre o andamento das investigações que apuravam a suposta participação do irmão da governadora em crimes financeiros no curso da operação “Boi Barrica”, rebatizada “Faktor”.
Perdido no cipoal de desafios que o cargo oferece, o secretário insiste na ‘teoria conspiratória’ segundo a qual as rebeliões estão sendo orquestradas por pessoas que desejam ver sua ‘cabeça rolar’. Talvez seja mesmo; afinal, só mesmo no Maranhão é possível se ver um agente de polícia comandar quase 250 delegados. (Do Colunaço do Pêta).

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