sábado, 19 de fevereiro de 2011

Dorothy plantada no chão


“Pela primeira vez eu posso dizer que eu fui a uma missa, ou pelo menos aquilo que pra mim agora é o conceito de missa”. A frase dita pelo estudante de direito Eduardo Maia representa bem a celebração eucarística que deu início às homenagens a irmã Dorothy Stang em Anapu, no último dia 12 de fevereiro.
No sexto aniversário de seu assassinato, caravanas de várias partes do estado do Pará estiveram presentes para conhecer de perto o legado de sua luta em defesa da reforma agrária e da floresta amazônica.

A analogia entre Dorothy e uma semente vem desde seu brutal assassinato em 2005 no interior do lote 55, área que somente após a sua morte foi incorporada ao Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança. Fala-se que seu corpo foi plantado no chão e dele germinou a luta em curso em Anapu em defesa dos assentamentos contra madeireiras protegidas por uma rede de políticos, alguns deles aliados de Dorothy no passado.

A paróquia de Santa Luzia esteve lotada. O local se diferencia das tradicionais igrejas já a partir do altar, onde Jesus é representado por um camponês crucificado em uma árvore serrada. Ao redor dele, Dorothy; o Padre Josimo Tavares, assassinado em 1986, em Imperatriz, no Maranhão, por latifundiários daquela região; e camponeses e indígenas sendo expulsos da floresta em chamas.

Este tom místico esteve presente em toda a cerimônia religiosa que abriu a programação de atividades. A cerimônia, presidida pelo bispo da Prelazia do Xingu, D. Erwin Krautler, também teve seu lado crítico.
O bispo leu trecho da última entrevista de Dorothy aos meios de comunicação onde relatava as ameaças sofridas por agricultores e religiosos de Anapu, a grilagem de terras e a extração ilegal de madeira. “E o que mudou de lá pra cá?”, indagou o bispo para logo em seguida responder: “Sabemos que muitos dos que andavam conosco quando irmã Dorothy estava viva, hoje não andam mais. Hoje estão do outro lado, contra Dorothy”.

A cerimônia contou ainda com vários atos religiosos teve também tons proféticos.
Para Acácio Melo, da CSP-Conlutas, várias passagens da missa, especialmente os cânticos faziam menção a uma sociedade justa, igualitária e fraterna, ideais próximos ao socialismo.  Ao final da cerimônia, muitos foram conhecer a casa de madeira onde Dorothy morava, que fica ao lado da igreja.

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